Do livro: O que é escolha profissional – Dulce Helena Penna Soares. Ed. Brasiliense, 2009
Bem, já escolhemos a profissão, já planejamos a carreira, já vivemos 30 a 40 anos no mundo do trabalho, dando a nossa contribuição social e agora chegou a hora de se aposentar. À primeira vista parece o melhor momento da vida! “Enfim, vou poder ganhar sem trabalhar! Vou poder só descansar!”
Mas não é bem assim. Um grande número de profissionais, com tempo de serviço e condições legais para se aposentarem não querem fazê-lo. Sentem medo de não ter o que fazer, como ocupar tanto tempo do seu dia, antes dedicado somente ao trabalho! Este vai se tornar “tempo livre”.
Aposentar-se também é uma escolha!
Puxa, a gente não para nunca de escolher? Até para “não fazer nada” preciso decidir, refletir e me preparar! Mas é complicada esta vida profissional, pensei que seria mais fácil!
O trabalho é central na vida das pessoas. Toda nossa vida está de alguma maneira vinculada ao trabalho e é definida por ele. Conforme a profissão escolhida, temos um tipo de vida. Por exemplo, se decidimos pela carreira militar, provavelmente estaremos sempre viajando, morando em cidades diferentes, assumindo cargos cada vez com maior responsabilidade para subirmos na carreira militar. Isso acarreta um tipo de vida para a nossa família, obrigada a nos acompanhar em todas estas mudanças!
Então, a profissão também nos permite construir uma identidade profissional, e muitas vezes a pessoa é confundida com o trabalho desempenhado. Por exemplo, dois jovens conversando: “Sabes o pai de fulano, o fiscal da receita, pois é, ele adora futebol”. Então, o pai do amigo é “o fiscal da receita”, este é o “sobrenome profissional dele”. E assim também para os funcionários das grandes empresas. O “fulano de tal da Eletrobrás”, o “beltrano é da Caixa”. A empresa passa a fazer parte do nome da pessoa, e ele é apresentado socialmente sempre com mais este sobrenome.
Então, como é se aposentar? É deixar de ser o “engenheiro de PETROBRAS” para ser quem? Um aposentado? Muitas vezes, gentilmente denominados como “inativo”. Este é mais um momento de escolha, em que é preciso se preparar, refletir sobre sua trajetória profissional, avaliar todas as realizações e o que ainda não foi feito para poder decidir qual o melhor momento para deixar de trabalhar!
Quando nos aposentamos, saímos de um emprego, de uma instituição, de um local que nos abrigou durante tantos anos. Os profissionais liberais muitas vezes não podem se dar ao luxo de se aposentarem, pois com certeza seu salário vai diminuir e muito.
Quem se aposenta não é o contador “João do Banco do Brasil”. É uma pessoa com sua história de vida, uma trajetória profissional, ingressou no banco com 18 anos como office-boy, fez sua vida dentro dele, o banco se confunde com sua vida pessoal e familiar. Todas as conquistas foram dentro do banco, subiu de cargo, agora é gerente, estudou pós-graduação, mas sempre em função do banco. Como deixar tudo isso para tornar-se um inativo!?
Voltamos à questão da primeira escolha, aquela da juventude! O que eu gostaria de ter escolhido aos 18 anos? Quais eram os meus sonhos? Será que consegui realizá-los durante minha vida, até agora? Com certeza sempre encontraremos algo que ficou para trás. Algum sonho como: aprender a tocar violão, saber falar uma língua estrangeira, ou conhecer a Índia. Pois agora chegou a hora de realizar os sonhos que ficaram para trás. Esta pode ser a saída para resolver a angústia de deixar de trabalhar. Encontrar os sonhos de juventude perdidos. Aquele passeio de moto pelo Brasil afora conhecendo do Oiapoque ao Chuí, ou aquela viagem pela América Latina! Agora temos dinheiro – pelo menos alguma condição construída nestes 30 a 40 anos de trabalho. E temos tempo, muitas vezes foi a nossa desculpa para não fazer as coisas!
Fonte: http://instserop.com.br/se-aposentando/